sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Letras Vernáculas - VII Semestre


   Deus costuma usar a solidão
Para nos ensinar sobre a convivência. 

Às vezes, usa a raiva para que possamos
Compreender o infinito valor da paz. 

Outras vezes usa o tédio, quando quer
nos mostrar a importância da aventura e do abandono.
Deus costuma usar o silêncio para nos ensinar
sobre a responsabilidade do que dizemos.
Às vezes usa o cansaço, para que possamos
Compreender o valor do despertar.
Outras vezes usa a doença, quando quer
Nos mostrar a importância da saúde.
Deus costuma usar o fogo,
para nos ensinar a andar sobre a água.
Às vezes, usa a terra, para que possamos
Compreender o valor do ar.
Outras vezes usa a morte, quando quer
Nos mostrar a importância da vida.
          Fernando Pessoa

Todas as cartas de amor...


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
 
Fernando Pessoa (Poesias de Álvaro de Campos)


 
 

quinta-feira, 16 de setembro de 2010


 

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

VIDA E OBRA DE RICARDO REIS


"O Dr. Ricardo Reis nasceu dentro da minha alma no dia 29 de Janeiro de 1914, pelas 11 horas da noite. Eu estivera ouvindo no dia anterior uma discussão extensa sobre os excessos, especialmente de realização, da arte moderna. Segundo o meu processo de sentir as cousas sem as sentir, fui-me deixando ir na onda dessa reacção momentânea..." Fernando Pessoa

Nascido no Porto, no dia 19 de Setembro de 1887. Recebeu uma forte educação clássica num colégio de jesuítas e formou-se em Medicina, profissão que exerce. Vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico, na sequência da derrota da rebelião monárquica do Porto contra o regime republicano. É um latinista por educação, e um semi-helenista por educação própria.




“Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mais seco [que Caeiro]. Cara rapada (...) de um vago moreno mate.”
                                                        (FERNANDO PESSOA)





Obra

As primeiras obras foram publicados em 1924, na revista Athena, fundada por Fernando Pessoa. Mais tarde foram publicados oito odes, entre 1927 e 1930, na revista Presença, de Coimbra Os restantes poemas e prosas são de publicação póstuma.
POESIAS – Odes de Ricardo Reis, 1946

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quise'ssemos, trocar beijos e abrac,os e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

(Odes de Ricardo Reis, Lisboa, Ática, 1952, PP.23-24.)


Prefiro Rosas, meu Amor, à Pátria
Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,

Se cada ano com a primavera
As folhas aparecem
E com o outono cessam?

E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.

Ricardo Reis, in "Odes"

Postado por: Tatielly, Sônia, Selma, Marisângela e Juliana

RICARDO REIS POR LEILA PERRONE



Ricardo Reis não se pergunta “quem sou?” mas “quem somos?”, o que introduz uma grande diferença. Sabendo que nunca terá resposta à primeira pergunta (“Sim, sei bem / Que nunca serei alguém (...) / Que nunca saberei de mim” – OP, p.286), encontra certo consolo na generalização filosófica: “Quem nos conhece, amigo, tais quais fomos? / Nem nós os conhecemos” (OP, p. 283). Ricardo Reis tenta reduzir o vazio subjetivo ao “nada’ da condição humana em geral, numa racionalização que dói menos do que o sentir individual. Distanciando, altivo, Reis é a ficção da renúncia: “Nada nos falta, porque nada somos./ Não esperamos nada/ E temos frio ao sol”(OP, p. 257). A renúncia de Reis não é a desistência de Fernando Pessoa “ele-mesmo”; ao contrário da desistência, a renúncia é uma farsa de vitória, pelo distanciamento voluntário  da razão filosófica.

Postado por: Tatielly, Sônia, Selma, Marisângela e Juliana

terça-feira, 14 de setembro de 2010

INÉDITO: Desnudando Caeiro

Nesta terça-feira, dia 14 de setembro de 2010, entrevistamos o mestre Alberto Caeiro, poeta da natureza, em sua quinta do Ribatejo, que cordialmente nos recebeu e contou um pouco de sua vida.


EQUIPE – Caeiro, todo poeta tem uma inspiração na hora de criar, diga-nos de onde vem tamanha inspiração para escrever seus versos?


CAEIRO –[...]
Vou escrevendo meus versos sem querer,
Como se escrever não fosse uma coisa feita de gestos,
Como se escrever fossem coisas que me acontecesse
Como dar-me o sol de fora.
Procuro dizer o que sinto.
[...]


EQUIPE Sim, percebemos que seus versos captam um modo muito peculiar de estar no mundo eliminando toda interferência do pensamento e da memória. Pra você existe a interioridade?


CAEIRO – “Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma.”


EQUIPE: E o que você tem a nos dizer sobre a criação do mundo?


CAEIRO –“Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).”


EQUIPE – Caeiro, você acredita em Deus?


CAEIRO –"Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!”


EQUIPE Mas afinal, qual é a sua filosofia de vida?


CAEIRO –“Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é.
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...”


EQUIPE – Você é considerado uma pessoa pacata. Nunca pensou em se aventurar conhecer o mundo?


CAEIRO –“Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...”


EQUIPE – Os críticos dizem que seus poemas seguem uma mesma estrutura de escrita. O que tem a nos dizer sobre isso?


CAEIRO –“Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais. naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.”


EQUIPE – Se nos permite invadir a sua privacidade... Como se sente com a separação de sua amada?


CAEIRO –“Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.”


EQUIPE – Para encerrar nossa entrevista, gostaríamos que você deixasse uma mensagem para nossos seguidores.


CAEIRO –Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.


[POSTADO POR: Ediélia Lavras, Edineuza Alves, Fabíola Castro, Ivanley Teixeira e Thiago Fernandes]

Tributo à Pessoa

Meus caros leitores,
Prestem muita atenção!
O que vamos falar agora,
É para ouvir toda nação.

O assunto é muito importante
pois fala de um homem múltiplo,
Fernando Antônio Nogueira Pessoa
Na literatura ele é muito útil.

Tem até nome de santo
porque nasceu em 1888 – 13 de junho
foi logo abençoado
por tanta gente do mundo.

O homem foi tão criativo
que não coube em si mesmo
precisou criar outros
pra partilhar seus segredos.


Alberto Caeiro é o homem do campo, guardador de rebanhos,
mas esconde uma filosofia grande
aborda várias questões do mundo
Neste vasto trabalho fala do ser humano.

Tem também o médico Ricardo Reis
Que é o heterônimo clássico
Recebeu influência dos gregos e latinos
para atender suas necessidades.
 
Álvaro de Campos é o futurista
busca conquistar a modernidade
se perde um pouco nas contradições mundanas
às vezes fica angustiado!

E assim segue Fernando Pessoa
marca não só da Literatura Portuguesa
mas de todas as partes do planeta
que acham essa arte uma beleza.

Esse poeta é de primeira grandeza
foi uma expressão no século XX
desdobrou-se em heterônimos
sua inquietação que o ilumina.

De Lisboa para o mundo
“Minha  pátria é a Língua Portuguesa”
 disse o poeta Pessoa
 Numa ternura com certeza.

Nas suas obras poéticas
falou muito da sua terra
Contemplou D. Fernando e D. Sebastião
das conquistas até as guerras.

Personificou o mar português
para falar dos desbravadores
entre choro, separação e saudade
para trás ficaram seus amores.

Publicou o livro Mensagem
composto de pequenos poemas
botou lírica e história
pois Portugal vale a pena.

Esmerou o glorioso novo império
Porque Portugal era a grande nação
falou tanto da sua pátria
Com muita admiração.
Cancioneiro, Passos da Cruz, Autopsicografia
são títulos de poemas seus
disse que o poeta é um fingidor
confessou isso a nós e a Deus.
Passou por muitas tragédias
com perdas de entes queridos
morou em tantos lugares
e tudo faz parte de sua vida.

Fez contato com Edgar Allan Poe
Nas suas leituras tem Baudelaire e Cesário Verde
é um homem muito letrado
sua maturidade literária é uma riqueza.
Mas é tanto “Desassossego”
na vida desse Pessoa
eis que surge a Revista “Orpheu”
marco do Modernismo que ressoa.

No ano de 1935
dia 30 de novembro
morreu Fernando Pessoa
agora o céu tem sua “Presença”.

Esse trabalho foi gratificante como é a meiguice de Rozânia
Helenice, Leane, Cida e Niracy
no cenário da poesia ortônima.