terça-feira, 14 de setembro de 2010

INÉDITO: Desnudando Caeiro

Nesta terça-feira, dia 14 de setembro de 2010, entrevistamos o mestre Alberto Caeiro, poeta da natureza, em sua quinta do Ribatejo, que cordialmente nos recebeu e contou um pouco de sua vida.


EQUIPE – Caeiro, todo poeta tem uma inspiração na hora de criar, diga-nos de onde vem tamanha inspiração para escrever seus versos?


CAEIRO –[...]
Vou escrevendo meus versos sem querer,
Como se escrever não fosse uma coisa feita de gestos,
Como se escrever fossem coisas que me acontecesse
Como dar-me o sol de fora.
Procuro dizer o que sinto.
[...]


EQUIPE Sim, percebemos que seus versos captam um modo muito peculiar de estar no mundo eliminando toda interferência do pensamento e da memória. Pra você existe a interioridade?


CAEIRO – “Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma.”


EQUIPE: E o que você tem a nos dizer sobre a criação do mundo?


CAEIRO –“Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).”


EQUIPE – Caeiro, você acredita em Deus?


CAEIRO –"Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!”


EQUIPE Mas afinal, qual é a sua filosofia de vida?


CAEIRO –“Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é.
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...”


EQUIPE – Você é considerado uma pessoa pacata. Nunca pensou em se aventurar conhecer o mundo?


CAEIRO –“Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...”


EQUIPE – Os críticos dizem que seus poemas seguem uma mesma estrutura de escrita. O que tem a nos dizer sobre isso?


CAEIRO –“Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais. naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.”


EQUIPE – Se nos permite invadir a sua privacidade... Como se sente com a separação de sua amada?


CAEIRO –“Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.”


EQUIPE – Para encerrar nossa entrevista, gostaríamos que você deixasse uma mensagem para nossos seguidores.


CAEIRO –Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.


[POSTADO POR: Ediélia Lavras, Edineuza Alves, Fabíola Castro, Ivanley Teixeira e Thiago Fernandes]

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